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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

AFRICA....



A minha terra é aquela terra negra, distante, que fica lá onde nasce o sol.

Lá, o sol é mais quente e não deixa que a noite dure muito; quando ela chega, retira-se lentamente, pintando de vermelho o céu e o espaço, prometendo voltar. A chuva é fresca e é bom senti-la encharcar-nos o corpo. Como é bom ouvir o batuque anónimo que soa na noite sensual.

Lá, o cheiro do mato enche o teu ser e o tempo é mais livre; tão livre como o vento que faz ondular as palmeiras, suavemente embaladas pela melodia salgada do mar na praia; e a vida corre-te nas veias, quente como o calor das queimadas.

A minha terra é aquela a que não voltei e que chama por mim; trago-a nas mãos e os meus olhos recusam-se a aceitar este espaço limitado por blocos de cimento; os meus olhos procuram os espaços verdes e livres onde corri, onde sonhei os meus primeiros sonhos, onde começei a viver.

O meu corpo não quer aceitar o tempo agreste de um Inverno que não é o meu; sinto a falta do calor do meu sol, queimando a pele sequiosa de vida.

Tenho comigo o sabor a trópico de caju; quero matar-te a sede com leite de coco; quero mostrar-te a sanzala onde brinquei em criança; quero que pises comigo a poeira da estrada que era o meu caminho.

Vou levar-te ao rio das águas límpidas que o óleo dos vapores não manchou ainda e que rasga o silêncio do meu mato; então, iremos sentar-nos numa rocha sobre as águas revoltas.

Depois, iremos mais longe  e poderás desfrutar comigo o êxtase do verde selvagem ou a vastidão dourada e imensa do Namibe.

Beberemos quissângua e deixaremos que o merengue transporte os nossos corpos.

Quantdo tiveres sentido comigo o calor da rebita, descansaremos à sombra de um imbondeiro e depois iremos ao Mussulo, deixando que, lá na praia silenciosa, à luz do luar, no sossego da nossa solidão, o nosso amor tenha como música de fundo o murmúrio cúmplice das ondas e o reçagar suave das palmeiras.

E, quando partires, deixarás uma parte de ti em cada lugar onde passaste e os teus olhos compreenderão porque recusam os meus aceitar os espaços limitados de cimento que são o teu horizonte.

Sweet

(Quissangua - bebida à base de fubá grosso ou sêmola de milho, fermento de pão e açucar)
(Namibe - antiga Moçamedes)
(Mussulo - Ao sul de Luanda, encontra-se a “ilha” do Mussulo, na realidade uma restinga envolvida por uma série de pequenas ilhas. No lado continental, de águas calmas, ideais para a prática de desportos náuticos, existem complexos turísticos e uma enorme quantidade de coqueiros. No lado oceânico, com o mar de águas limpas mas mais agitado, existem praias de areia branca e quase desertas, habitadas apenas por pescadores nativos)

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